quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

HÁ TRINTA ANOS...

...o mundo ficou vermelho e preto.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UMA TARDE EM DEZEMBRO

Hoje estava fazendo uma reportagem com o artista plástico e cordelista Márcio Bizerril. Por coincidência, um outro artista guarabirense, o pintor Clóvis Júnior, estava visitando a cidade. Ok, boa oportunidade para pegar um depoimento dele sobre Márcio, de quem Clóvis também é amigo. Quando Júnior chegou, qual não foi minha surpresa ao saber que ele estava acompanhado de Petrus Farias, amigo que eu não via desde o final dos anos 90. Petrus era um bom percussionista... e um ótimo tomador de rum. Hoje representa um marca italiana de café gourmet, coisa de primeira para paladares treinados.

Aí não teve jeito, passamos uma tarde relembrando histórias engraçadas, e trabalhando ao mesmo tempo. 
Não poderia deixar de registrar o momento.
Juan Pablo, Hebert Araújo, Clóvis Júnior, Márcio Bizerril e Petrus Farias

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

QUINZE ANOS COM BENTO SOARES


Conheci Bento Soares em 1996. Eu, vindo de Guarabira para realizar o desejo de me graduar em jornalismo. Ele, cearense radicado em João Pessoa, funcionário do Banco do Brasil realizando o sonho de se tornar jornalista após militar no rádio durante anos. Entramos juntos na UFPB. Nossa turma era 96.2, onde também estavam Ainoã Geminiano, Kaliandra Moura, Janaína Ferreira, Bruno Salles, Juliana Velloso, João Bosco Filho e tantos outros grandes colegas.

Anos depois, Bento confessaria que teve medo sofrer preconceito, já que estava beirando os cinqüenta e se viu cercado por jovens que acabavam de sair do ensino médio.  Estava enganado. Rapidamente todos se tornaram amigos e ele, a única unanimidade da turma.

Em 1998, por problemas pessoais, tive que me ausentar temporariamente da Universidade. Só voltei com força em 2000, decidido a terminar o curso. No meu retorno tive a satisfação de reencontrar Bento, desblocado por conta de suas obrigações com o BB, que o mandara gerenciar agências no interior. Já aposentado, ele levava à frente o sonho do bacharelado em Comunicação.  A turma era outra, desta vez compartilhamos saberes e amizades com Laerte Cerqueira, Fabiana Nóbrega, Ana Aragão e, novamente, com o interminável João Bosco Filho. As caras mudaram, mas o apreço de Bento pelos colegas, e vice-versa, era o mesmo. Havia também outra galera: a turma do futebol. Eliseu Lins, Stéfano Vanderley, Marcos Thomás, Phelipe Caldas e eu, todos em volta do colega/mestre, Bento Soares.

Em 2003 concluímos o tão sonhado curso. Na festa de formatura precisávamos usar uma gravata azul Royal. Ninguém encontrou esta cor nas lojas da capital. Só eu e Bento usávamos as peças na cor exigida e os colegas ficaram curiosos. Acontece que, diante a ausência do produto no comércio, Maria José, esposa de meu amigo, comprou o tecido e fez as gravatas em casa. O sorriso de Bento durante a festa era de uma satisfação extraordinária. Um sorriso de quem não só comemora mais uma conquista, mas o regozijo de quem, pela idade e estabilidade financeira, poderia ter se acomodado, mas perseguiu e concretizou seu sonho de forma brilhante.

Depois de graduados nos afastamos por um bom tempo. O reencontro aconteceu quando a TV Correio passou a transmitir as partidas do Campeonato Paraibano de Futebol e eu fazia reportagem de pista. Ele, atuando como comentarista no rádio, era figura fácil nos estádios. Retomamos o contato e, vez por outra, conversávamos por telefone.
Também encontrei Bento algumas vezes na festa de entrega do Prêmio AETC de Jornalismo. Em 2008 fui o 1º na categoria radiojornalismo com uma reportagem sobre compra de votos. Naquela noite eu e meu caro amigo tomamos muitas doses de uísque e ele, a certa altura, beijou e levantou o troféu que eu havia recebido com uma alegria e um orgulho paternos. Atitude de um homem generoso e que sabia reconhecer qualidades. Na mesma ocasião, minha então noiva, Lisângela, comentou sobre nosso casamento, que aconteceria cerca de duas semanas depois, em Guarabira. Bento não pestanejou: Estarei lá! Avisei que seria uma comemoração modesta e ele reafirmou que iria à Capital do Brejo. Pelo adiantado das horas e das doses de uísque, pensei que aquela disposição seria apenas mais uma das gentilezas dele.

No dia 18 de dezembro, quando entrei no auditório do Fórum de Guarabira, qual não foi a minha surpresa ao detectar aquela inconfundível figura sentada e sorridente em uma das poltronas. Não sei como, mas ele lembrou a data e o horário, chegou mais cedo do que todo mundo e me proporcionou uma grande alegria.

Outro encontro certo que tínhamos era nos finais de ano. De férias em João pessoa, eu sempre agendava uma visita ao querido amigo. Ficávamos horas conversando sobre comunicação, música, futebol e Universidade.

No último dia 25, uma sexta-feira, fui à casa de Bento. A conversa, sempre agradável, teve um longo e nostálgico capítulo sobre nossos colegas de universidade, da 1ª e 2ª turmas. Relembramos nomes e situações. Também falamos sobre ética nos meios de comunicação, do naufrágio do Botafogo dele e do meu Flamengo no Brasileirão. Na saída, ele me agradeceu repetidas vezes pela visita. Eu disse que não era nada, já que aquilo acontecia todo fim de ano. Eu não sabia, mas meu amigo, premonitoriamente, estava me agradecendo por ter ido me despedir dele. Aquela seria a última vez que eu o veria com vida. A imagem dele sorrindo na frente de casa e acenando um adeus definitivo estará gravada em meus olhos para sempre.

Às 05:51 do dia 28 fui despertado por um telefonema de Thales, filho de Bento, comunicando que o coração que abrigava tantos amigos, não resistiu a um infarte.

Sem exageros ou dramas, posso dar aqui algumas definições de Bento Soares: Um homem perseverante e que amava o conhecimento, senão não teria feito questão de terminar o curso de jornalismo e não planejaria fazer uma pós-graduação. Conhecia profundamente futebol e a história da comunicação e crônica esportiva brasileira, assuntos sobre os quais tinha dezenas de livros. Ele próprio escreveu, baseado em sua pesquisa de conclusão de curso, o livro “Vendo o jogo pelo rádio”, onde fez uma radiografia histórica da crônica esportiva no Brasil. A obra, aliás, o levou a ser entrevistado no Programa do Jô, na Rede Globo.
Um comentarista dedicado e atento. Um jornalista focado naquilo que é fundamental à profissão: a informação precisa e verdadeira. Um cronista ético, que não dourava pílulas, não bajulava dirigentes, não criticava ou elogiava além da realidade. Atitudes muitas vezes incompreendidas por intocáveis de nosso futebol, que tentaram, em mais de uma oportunidade, censurá-lo. Os detratores se referiam a ele como “este cearense”. Acostumados a chafurdar no lugar comum da troca de favores, não entendiam os motivos de um homem que opinava de acordo com o que lhe parecia certo.

Um amigo extraordinário. Quem conviveu com Bento, conheceu sua generosidade, gentileza e desprendimento. Um homem que tinha amigos, que também eram admiradores. Tive o privilégio desta amizade durante os últimos 15 anos da vida dele e agradeço por isso. Obrigado amigo, e até a vista.