sexta-feira, 10 de junho de 2011

ENTREVISTA - WELLINGTON FARIAS


Wellington Alexandre de Farias nasceu em Serraria, no brejo paraibano, há 53 anos. Seu primeiro emprego, aos 13 anos, já tinha relação com a comunicação. Wellington foi mensageiro de posto telefônico. Quando alguém ligava para o posto de Serraria querendo falar com algum morador, era ele quem ia até a casa do cidadão avisar sobre a chamada. Radicado em João Pessoa desde 1972, tem uma longa história no Jornalismo paraibano. Em 2011 se tornou um dos integrantes do trio que compõe o Correio Debate, da rede Correio Sat. Bem ao seu estilo, ele conversou com o Televisonário e não fugiu de polêmicas. 

T – Como foi que você começou a trabalhar com jornalismo? 

Comecei na imprensa na Rádio Tabajara, então PRI-4 com sede na Rodrigues de Aquino, no centro de João Pessoa. Fui levado pelo jornalista Gilvan de Brito, então diretor de jornalismo da Tabajara. Não sabia nada de jornalismo, noticia etc. São lia e ouvia. O grande redator Armando Nóbrega estava para sair da emissora. Eu desempregado, ainda muito jovem, e conhecia Gilvan que me ofereceu a chance. O cavalo estava passando selado e eu montei. Era um desafio, sobretudo para um jovem do meu nível cultural e de conhecimento zero de jornalismo. Aceitei o convite e comecei como rádio-escuta. Ouvia os noticiários da Rádio Globo, "O Globo no ar". Gravava num gravador de rolos de fita. Transcrevia tudo para o papel e passava para o locutor ler na hora do noticiário nacional e internacional. 

T - Alguém te orientava? 

Os redatores e locutores me orientavam principalmente Paulo Rosendo e Assis Mangueira. Paulo foi o noticiarista da Tabajara ao longo de anos. Ele fazia o Informativo Tabajara. Às vezes eu pegava eventualmente uma notícia, redigia sem saber, aquele texto truncado de aprendiz. Ela pegava de primeira na cabine de rádio e ajeitava o texto no ar. Era uma fera. 

T - E depois desse aprendizado inicial na Tabajara, o que aconteceu? 

Aconteceu que Paulo Santos tomou uma mal tomada e foi demitido do jornal A União. Ele trabalhava comigo na Tabajara e me encaminhou ao então chefe de reportagem do jornal, Frutuoso Chaves, com um bilhete que dizia: "Frutu, esse magrelo trabalha comigo na Tabajara. Joga uma pauta em cima dele pra você ver". Ai fui estagiar e tem uma história muito curiosa nesse estágio. Quer saber? 

T - Com certeza. 

Eu fui fazer o estágio. Como não sabia de nada, nunca tinha feito reportagem, entrevista etc, Gilvan de Brito, que me deu a mão na Rádio Tabajara, redigiu as "minhas" notícias nos primeiros dias. No primeiro teste, quando Frutuoso leu o "meu" texto, espantou-se: "Cara, onde você aprendeu? Você tem um dos melhores textos do jornalismo paraibano”. Só que as matérias eram de Gilvan. Uma semana depois, Gilvan deixou de fazer e eu comecei a fazer os meus. Outro susto em Frutuoso: quando ele leu meu texto mesmo reagiu: "Oxente, cara, o que está havendo, você desaprendeu geral". Foi muito engraçado 

T - Quando foi que você notou que aprendeu de verdade? 

Exatamente quando boa parte das minhas matérias passou a ser manchetes do jornal. Ai senti que tinha engatado, decolado. 

T - Você já tem uma longa estrada no jornalismo. Por onde ela passou? 

Rádio Tabajara, jornal A União, jornal O Norte, TV Tambaú, correspondência do jornal O Globo (cobri as primeiras eleições diretas na Paraíba para o Globo), freelancer para a revista Veja. Jornal Diário do Estado, em Natal. Acho que só. 

T - Na verdade você esqueceu o Sistema Correio... 

Jornal Correio, claro, onde passei a maior parte da minha carreira. Essa foi grave! 
Passei várias vezes pelo Correio 

T - Tem algo que você considera que marcou sua trajetória? 

Pelo menos no momento atual, não. Mas acho que o que mais marcou minha trajetória no jornalismo impresso, pela grande repercussão nacional que teve, foi a reportagem que fiz denunciando o plágio de Zé Ramalho com a música Força Verde. Faz muito tempo, mas até hoje (esta semana mesmo no rádio) as pessoas falam e perguntam a respeito. 

T - No documentário de Elinaldo Rodrigues (O herdeiro de Avôhai), Zé diz que o texto – retirado de uma revista do Incrível Hulk e que serviu de base para a letra da música - não tinha crédito e que consultou o produtor. O cara teria dito que aquilo era só um gibi e que não tinha problema. Você acha que o erro foi cometido por ingenuidade mesmo? 

Não é verdade, está lá nos créditos. Texto de William Yeats com tradução de Roy Thomas. 

T- Você tem uma opinião sobre o que levou Zé, autor de grandes letras, a não creditar o poeta e acabar se metendo nessa confusão? 

Ele leu o gibi dez anos antes. Musicou o texto e mostrou para colegas de música, em João Pessoa, como se fosse de sua autoria. Um deles, cujo nome me foge à memória, me contou isso. Exatamente dez anos depois, em 1982, ele já famoso, incluiu a música, muito bonita e bem arranjada, naquele que seria o seu grande disco. E deu explicações sobre Força Verde, que tinha a ver com a natureza brasileira etc. Foi em entrevista ao Jornal do Brasil, capa do Caderno B anunciando o lançamento do disco. O que ele disse, não tinha nada a ver, de fato, com a história que viria à tona depois. 

T - Houve má fé então? 

Disso não tenho a menor dúvida. Zé é um grande compositor, músico fantástico. Não precisaria disso. Bastava ele citar que o texto era de William Yeats e musicado por ele. Imagina só, o mérito pra ele, ter competência (e muita) para musicar bem um texto do Premio Nobel de Literatura. Acho que seria melhor pra ele. Mas tem aquela história intima da ganância e da vaidade de ser demais em tudo. Deu errado. Ele passou oito anos sem gravadora depois disso (N.E. – depois de Força Verde Zé lançou mais cinco álbuns, sem conseguir repetir os sucessos anteriores, até que foi dispensado pela gravadora). Ele na época, disse que na reportagem que fiz eu estava a serviço de Wilson Braga, porque o parente da tia dele ou dele, Antonio Mariz, disputava com Braga o Governo do Estado. Detalhe: fui eleitor de carteirinha de Mariz e jamais votei em Braga. Era meu dever profissional divulgar aquilo. Senão eu não seria jornalista. 

T - Você não tem medo de mexer vespeiro, não é? 

Não. Quando essa informação chegou à redação do jornal, foi como um enxame. Ninguém queria fazer. Todos fugiram inclusive os jornalistas da área de cultura. Eu era chefe de reportagem e achei um absurdo que um fato desse fosse escondido. Me comprometi a fazer, a matéria tinha que sair. A questão foi discutida até no Palácio, no governo de Burity, eu acho, porque o jornal era do governo e Zé um talento da Paraíba. E decidiram lá: desde que o autor assine, pode fazer. Eu fiz, assinei e a matéria saiu. 
Quem correu da raia, deu demonstração de que, no fundo, não é jornalista! 

T – Wellington Farias se considera polêmico? 

Eu termino sendo polêmico pela minha característica de abordar temas que para os nossos padrões não são comuns. Veja que alguns jornalistas bateram pino para fazer a matéria do plágio. É este o papel da imprensa, se recusar a tornar os fatos públicos? Quando é para elogiar, não falta gente. Trabalho jornalisticamente sempre pensando no consumidor de informação. Procuro fazer aquela pergunta que o consumidor de informação quer fazer, que se identifique com ele, que atenda às suas aspirações 

T - Tem muita gente fazendo jornalismo lagartixa atualmente na Paraíba? 

É o que mais tem. Nunca vi uma fase tão ruim da nossa imprensa como esta. Acho que o toco está institucionalizado. Uma vergonha para a nossa imprensa. Hoje temos uma imprensa dividida: a imprensa de Cássio; a de Maranhão. Existe a imprensa Ricardista? Ai justiça se faça ao governador: a imprensa Ricardista é aquela que está ao lado de qualquer governador. Mas não sinto que Ricardo tenha esse perfil de comprar jornalistas. Posso estar enganado, mas não vejo isso. Mas acrescento: Ricardo não compra jornalista, mas também não gosta de jornalista que lhe faça crítica e, se possível, ele pode até pedir a cabeça ou, por qualquer via, tentar calá-lo. 

T – Não existe um certo elogio da ignorância na imprensa paraibana atualmente? 

É claro que o elogio a ignorância compromete qualquer trabalho jornalístico. O jornalismo que aplaude a ignorância por si só é ignorante também. O jornalismo também tem a missão de educar, abrir horizontes e formar opinião. Nada disso combina com a ignorância. 

T – E a ignorância dos próprios jornalistas? 

Já foi pior no passado. No tempo em que iniciei era muito pior. O nível de ignorância era muito maior. Havia dois três, no máximo meia dúzia, que havia lido Dom Quixote ou tinha o hábito de leitura. O resto era zero à esquerda, culturalmente. Presenciei muitos vexames e vergonhas alheias em entrevistas coletivas com pessoas cultas e preparadas, pelo nível das perguntas dos jornalistas. Sabe aquele coleguinha passar um tremendo atestado de ignorância, de analfabetismo e sem o menor conhecimento do assunto em questão?!! 
E, em algumas ocasiões, fiquei calado, também pela minha própria ignorância sobre o assunto. 

T- Você já foi censurado? 

Tantas vezes que perdi a conta. Censura é uma das coisas que mais me angustiam. Não tenho problema nenhum com salário baixo. Sempre ganhei pouco. Com jornada de trabalho beirando a escravidão moderna. Tudo isso eu tolero. Mas algumas vezes, sobretudo no jornal impresso, tive sérios problemas com censura. E, pasme, geralmente por uma conveniência do editor de plantão. 

T - Diante dos percalços da profissão já pensou em mandar tudo às favas? 

Inúummmerasss vezes! Já fiz isso uma vez. Não dá certo. Jornalismo é uma cachaça. Você não aguenta ficar fora. Mas já vivi momentos de tanta angústia com limitações ao exercício da profissão, do fazer jornalismo, que pensei em cair fora. Fiz uma tentativa que não durou mais de três meses. 

T - Serraria e a música te ajudam nesses momentos de angústia? (N.E. O jornalista mantém, de forma voluntária, uma escola de música em sua cidade natal) 

Muito. Serraria nem de longe é a Serraria dos meus bons tempos de infância e adolescência. Mas Serraria me remonta aos melhores períodos da minha vida. E a música é uma terapia fantástica: mexe com a alma, com todos os sentimentos, provoca emoções e relaxa. Todo mundo deveria tocar um instrumento ou cantar. 

T - Um garoto está entrando hoje no curso de jornalismo, cheio de vontade e idealismo. Qual o seu recado pra ele? 

Continue, é uma profissão maravilhosa. Mas é acima de tudo um sacerdócio. Se estiver entrando por mera vaidade, caia fora e vá fazer Direito ou Medicina. Mas se sabe qual a finalidade do jornalismo e qual a missão do jornalista, continue. Agora, quando se formar, caia fora da Paraíba. Fazer Jornalismo aqui é utopia 

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