terça-feira, 19 de abril de 2011

CHICO CÉSAR: GÊNIO DA RAÇA


Chico César, cantor e compositor de talento reconhecido no Brasil, no Japão, na Europa. Ah, ele também é secretário de Cultura do Estado da Paraíba. Foi como secretário que ele emitiu uma nota para retificar algumas interpretações feitas sobre declaração anterior dele, onde afirmou que o Governo não iria gastar dinheiro com Bandas de Forró de Plástico e Duplas Sertanejas. Para mim a explicação era desnecessária. Entendi muito bem quando o secretário afirmou que, nos eventos em que a secretaria investisse dinheiro, o faria contratando artistas que valorizassem nossas raízes culturais, independentemente do evento e de outros artistas que pudessem ser contratados pela organização, através de patrocinadores ou de recursos próprios. Em nenhum momento Chico César falou em proibição, ou em barrar qualquer artista que fosse. Isso foi reiterado na nota publicada ontem: " Mas nunca nos passou pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências. Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso." Isso quer dizer que se, por exemplo, o Estado patrocinar uma atração para o São João de Patos, esta atração será contratada pelo critério da Secretaria de Cultura, mas isso não impede que a Prefeitura contrate qualquer artista para se apresentar em sua festividade. Era tão difícil de entender? É preciso ter uma inteligência, digamos, bem rarefeita, ou então muita má fé para ficar gerando polêmica em torno disso.

A bem da verdade, Chico César age com coerência. O poder público tem o dever de prover educação e cultura para o povo. Nada mais justo que contratar artistas que possam cumprir esta função. Cultura não é só entretenimento, é algo que agrega, que faz com que o espectador saia do espetáculo enriquecido. A cultura envolve auto-estima. É preciso gostar de si para se valorizar isso. Quando a auto-imagem de um povo é ruim ele tende a valorizar coisas exteriores à sua própria cultura. Infelizmente a Paraíba é especialista nisso.
Senão vejamos, Flávio José, um grande herdeiro da cultura nordestina, faz quantos shows por ano na Paraíba? Com certeza Pernambuco e Bahia sediam mais espetáculos dele. Quantas vezes a imprensa paraibana se levantou para execrar Zé, Elba Ramalho ou Chico César? Certamente já vimos este triste filme. Minha esposa, que é pernambucana, costuma dizer que se Zé Ramalho tivesse nascido no Estado vizinho ele seria considerado um Deus pelos conterrâneos. Mas isso é coisa de quem sabe valorizar sua cultura e seus valores. Aqui os artistas são tratados com desprezo ou desconfiança. 
Artistas importantes como Rafael de Carvalho e Zé Katimba nunca foram escarnecidos pelo simples fato de que a maioria dos paraibanos, inclusive os da imprensa, sequer sabem quem são.

Só a título de informação, na última Festa da Luz - famosa e gigantesca festa da padroeira de Guarabira - a Banda Garota Safada, contratada para o evento, fez o show e voltou para o camarim. Depois que todos saíram, os seguranças entraram no local para uma checagem de rotina e encontraram as bandejas de salgadinhos, cuidadosamente preparadas para os músicos, ensopadas de urina. No canto da sala e nas paredes, havia fezes. Neste mesmo evento, e em vários outros por todo o Estado, vocalistas começam suas apresentações com uma frase pouco singela: "Tem Rapariga aí?" É por este tipo de gente que se criou esta polêmica?

Chico César é um Gênio da Raça. Alguém que tem coragem de mostrar o absurdo a que somos submetidos, muitas vezes, sem notar. Tem coragem de peitar este esqueminha que começa com o jabá nas rádios e termina com a massificação do que não presta, como se isso fosse o "gosto popular". Tem coragem de, num Estado que tem uma ridícula e eterna síndrome de primo pobre, valorizar nossas raízes culturais.



2 comentários:

  1. Respeitando sua opinião, mas ditadura até nos gostos musicais, não convém...

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  2. Reforma agrária no ar já!Não suporto ligar o rádio e só escutar PORCARIA, e quanto ao assunto, não quero que o dinheiro dos meus impostos financie essas aberrações da natureza

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